Depois de cerca de 3h de voo dei entrada num país de fadas, Gnomos e lendas centenárias que me surpreendeu e cativou de dia para dia.
Dia 1
Chegámos ao Anchor House Dublin a meio da tarde, como não chove apressamo-nos a fazer a volta de reconhecimento à cidade. Não é uma cidade muito grande, mas tem personalidade. Localizada na baía da foz do rio Liffey é uma cidade que vibra com o pulsar do movimento de rua, das lojas, dos pubs, da história ou das lendas encontradas ao virar de cada esquina.
Parada na O’ Connell Street observo todo o movimento a partir da ponte e deixo-me convencer que a aposta estava ganha. Serpenteamos a cidade entre as pontes sobre o Liffey.
A Grafton Street é das mais movimentadas ruas de Dublin que se impõe orgulhosamente limpa, com lojas e restaurantes de topo e vários artistas de rua. O final da rua desaba no St.Stephen’s Green. Uma ampla zona verde no centro da cidade que levanta o véu para o doce verde que vamos encontrar nesta Emerald Island. E como na Irlanda todos lugares escondem histórias/lendas encantadoras, conta-se que durante a Revolta da Páscoa quando o St.Stephen’s Green foi tomado pelos rebeldes do IRA durante 6 dias, foi declarado um cessar-fogo para que o guarda do parque pudesse alimentar os patos.
Janta-se cedo na Irlanda e às 22h a cozinha do nosso primeiro restaurante sugerido – Winding Stairs - já estava fechada, seguimos o rastilho indicado pelo empregado do restaurante e jantámos num delicioso restaurante Italiano – Bar Itália que deve ser dos únicos a acompanhar os horários dos povos latinos.
O Temple Bar mantém as ruas estreitas que remontam ao século XVII. A zona escapou à reabilitação dos construtores civis nos anos 60 e à demolição para construção de um terminal de autocarros nos anos 80. Aqui a noite é muito animada, música ao vivo, Irlandeses a falar alto, a cantar em coro e a beber, a beber muito!
Dormi pouco, ardem-me os olhos. O dia começa com o English Breakfast – Salsichas, Ovos, pão, manteiga, doce de morango, café, leite… Sinto-me aconchegada até à hora de almoço. Estão cerca de 8ºC e não chove. Saímos em direcção à zona empresarial: PWC, JP Morgan, entre outras multinacionais.
Visitamos o Trinity College, a mais famosa e antiga universidade da Irlanda. Originalmente eram apenas aceites alunos protestantes, os alunos católicos podiam ser aceites deste que renunciassem as suas crenças. Mais tarde foram abolidas as restrições religiosas e hoje em dia a maior parte dos alunos são católicos.
Dentro da universidade existe um campanário que segundo a lenda, quem aguarda resultados de exames não poderá passar por baixo arriscando-se a reprovar.
Almoçamos no Mc Peaches mesmo em frente ao Trinity College. Comi uma deliciosa quiche que poderia ter sido feita com a mesma receita que as da nossa fantástica Confeitaria Nacional. Muito boa.
Os pináculos das igrejas são uma constante que confere a identidade à cidade, altas, grandes e majestosas. As duas principais igrejas são: a Christ Church (em tempos frequentada pela classe mais alta) e a St. Patricks Church (onde, segundo a lenda, foram celebrados os primeiros baptizados dos convertidos ao cristianismo).
Os dias parecem curtos para os nossos planos e quando chegámos à fábrica da Jameson já tinham terminado as visitas. Seguimos para a fábrica da Guiness e também já não eram aceites visitas. Puxámos a nossa veia Portuguesa e conseguimos subir ao topo do edifício com vista para a cidade a 360º.
Seguindo um horário mais razoável, jantámos no Winding Stairs, comi mexilhões com uma Belfast Blonde e saí de lá redonda.
Dia 3
Não sou eu que vou conduzir à direita, mas isso não me tranquiliza, antes pelo contrário. Ir no lugar do pendura num país que se conduz à direita é simplesmente assustador principalmente quando sabemos que quem conduz também não está familiarizado. Não foi preciso de sair de Dublin para ficarmos sem retrovisor e ainda agora a viagem vai no início.
Chegamos a Powerscourt. Os jardins são tranquilizadores, o Triton Lake em frente ao palácio é uma cópia da fontana del Tritone de Bernini em Roma e deleitei-me com os jardins Japoneses. Esta imagem é o início de uma Irlanda de contrastes Verdes e Azuis que nos vai acompanhar até o regresso a Dublin.
A rua central de Enniscorthy estava deserta, as lojas estavam fechadas. Dia 3 de Maio é feriado na Irlanda, mas supermercado está aberto e comprámos mantimentos para a viagem. Subimos a colina – Vinegar Hill e ouvimos apenas o vento daquela cidade num dia de Bank Holiday.
Chegámos a tarde Waterford. Os restaurantes estavam fechados, mas conseguimos que nos servissem jantar num restaurante Indiano. Jantámos lindamente, mas sentimos uma simpatia cínica no ar talvez por estarmos a jantar às 22h. É segunda-feira e não há movimento na rua. Regressámos ao hotel depois de jantar.
Dia 4
Waterford é a mais antiga cidade da Irlanda fundada pelos Vikingues em 914. A indústria dos cristais desta cidade gozaram durante anos de uma reputação sem rival, mas os elevados impostos levaram ao encerramento da fábrica. Foi reaberta em 1947. Não a visitamos, apenas passamos pelo edifício inconfundível com encantadores lustres de cristal. A cidade tem três torres idênticas, na Reginald’s Tower ainda é visível o disparo de canhão das tropas de Cromwell contra os Vikingues.
A pequena marina fica encoberta por um enorme parque de estacionamento e do outro lado da margem uma enorme fábrica de cimento inactiva rasga a paisagem. Esta cidade tem edifícios altos e ruas estreitas o que dificulta o enquadramento das paisagens.
Na praia de Tramore, não chove, mas o tempo cinzento, o vento e o facto de a praia estar vazia torna o ambiente melancólico. Se tivesse que descrever o que senti em Tramore numa música escolheria Ekki múkk do novo álbum Sigur Rós, foi exactamente a mesma coisa.
Lanchámos em Durgarvan, um delicioso pudim de pão.
Youghal é a cidade onde foi filmado o Moby Dick (a ver muito em breve), esforcei-me por registar a essência desta cidade para verificar se coincide com a que vou tirar do filme.
Cobh (lê-se Cove) é uma das 3 ilhas do porto de Cork. Quando a rainha Victória visitou esta ilha mudou-lhe o nome para Queenstown, mas em 1921 retomou o nome inicial. Tem um dos maiores portos do mundo e eram frequentes as visitas de navios de luxo. Em 1838, o Sirius partiu daqui para a primeira viagem transatlântica a vapor, o Titanic fez aqui a última paragem antes da trágica viagem em 1912. Também foi deste porto que emigraram cerca de 2,5 milhões dos 6 milhões de Irlandeses na altura da grande fome.
Sem restaurantes recomendados em Cork, jantámos num que nos pareceu só ter gente local. Comida simples, mas bem cozinhada. Cumpre o que se quer.
Foi difícil encontrar o B&B em Cork e o GPS insistiu em não funcionar até ao final da viagem.
Dia 5
O pequeno-almoço foi uma desilusão. Deixamo-nos ficar à mesa a verificar alguns detalhes do nosso plano de viagem, com calma… Saímos em direcção ao centro de Cork já a manhã ía adiantada.
O English Market no coração da cidade tem entrada por 3 ruas possíveis. Aqui vendem peixe, carne, fruta, queijo, legumes que misturam um aglomerado cores e cheiros. No pátio superior é a zona de cafés, seguindo o corredor inferior ouve-se o som das conversas de quem se junta para dois dedos de conversa. Frank Hederman é uma loja especializada na confecção de Salmão Fumado e destaca-se pelo aspecto elegante e cores pastel. A loja fica situada no canto do mercado e o cliente que está a ser atendido escolheu uma refeição para oferecer que foi embrulhada com o rigor de um presente muito sofisticado.
Almoçamos em Blarney num restaurante no centro – Muskerry Arms e seguimos para o lendário castelo de Blarney. Segundo a tradição ancestral existe uma pedra localizada no interior do castelo que confere uma eloquência imbatível a todos aqueles que cumpram o ritual de se deitarem de costas, suspensas pelos pés e nela derem um beijo. Não é uma manobra fácil e ficou registada numa fotografia/diploma que com certeza deverá ser uma mais valia para anexar ao meu Curriculum Vitae :P
Não parámos em Macroom. Pus a máquina fotográfica de fora do carro e disparei umas fotografias tortas ao castelo que Crumwell (este senhor entra nas histórias de todos os cantinhos da Irlanda) doou ao Sir William Penn (o pai do fundador da Pensilvânia – um dos mais antigos estados dos Estados Unidos).
A vista é fabulosa na baía de Glengardiff onde fica o hotel Eccles visitado, também, pela rainha Victória. Estava nos planos apanharmos um barco para as Garinish Island, mas já não há travessias às 19h. O próximo barco sai às 9h45 do dia seguinte, mas infelizmente já não temos tempo de voltar atrás.
Dia 6A senhora da recepção não é antipática, mas a timidez impede-a de manter uma conversa fluída, o sorriso espontâneo apenas se esboça quando lhe perguntamos se o Killarney National Park é merecedor da nossa visita.
Killarney National Park era inicialmente de um Irlandês que se endividou a fazer obras na sua herdade durante 11 anos para receber a visita da rainha Victória esperando tirar partido dessa visita. A possibilidade de ser nomeado Sir e ser isento de impostos levou-o a deixar dívidas tão elevadas que acabou por ver a sua casa penhorada pelo banco. A herdade foi comprada por um californiano que a ofereceu à filha como presente de casamento com um Irlandês. Após a morte da filha do californiano, o marido Irlandês não dispunha de fundos para manutenção da herdade e doou-a ao governo.
Visitamos o parque de charrete. Passámos em frente ao lago e seguimos até à cascata de 18m, vimos a manada de vacas que pertencem à mais antiga coudelaria de vacas irlandesas e regressámos ao ponto de partida. Foi um passeio sem sol, mas também sem chuva.
Chegámos a Galway à hora de jantar. Comi o melhor bife de vaca na Irlanda juntamente com uma pint. O B&B é em Salthill.
Dia 7
Hoje vamos à Citroen substituir o retrovisor partido em Dublin. Telefonamos para que tivessem tudo pronto até à hora de almoço, mas quando chegámos à Citroen estava tudo atrasado. Vamos ficar algumas horas sem carro – pfff, tudo empandeirado! Decidimos apanhar um táxi até ao centro de Galway.
É uma cidade universitária junto a uma baía e ao fundo vêem-se as Aran Islands. Ao meio-dia eram muitas as pessoas a passearem os cães, andarem de bicicleta ou a fazer jogging na zona verde da cidade.
Na Citroen tivemos boas e más notícias. As boas? O retrovisor está como novo e lavaram-nos o carro. As más? Além do retrovisor também a porta ficou riscada e na zona do para-lamas há uma mossa, com o carro lavado fica tudo mais visível. O preço? Não vamos falar sobre isso…
John Wayne filmou o filme ‘Quiet Man’ com estas paisagens de fundo e por todo o lado estão indicados os locais de filmagens.
Antes do regresso a Dublin terminamos em beleza no Congo, onde fica um dos mais maravilhosos hotéis que já vi. Entramos pelas portadas e vislumbramos o Ashford Castle com o Lough Corrib no fundo e extensos campos verdes. Toda a envolvência faz deste sítio um sonho de lugar.
Deixámos os caminhos de ovelhinhas de cara negra e seguimos para Dublin pela auto-estrada.
Demorámos a perceber que o hotel era mesmo naquele edifício barulhento, onde as miúdas de vestidos minúsculos saíam tortas. Estavam cerca de 3ºC e eu tremia dentro do meu casaco de penas.
Amanhã o carro tem que ser entregue até às 9h, temos 3 horas para dormir.
Dia 8Acordo com um cansaço indiscritível, mas o carro tem que ser entregue. O resto do dia é para visitar a zona norte de Dublin.
Volto ao cruzamento da O’ Connell Street de onde observei o movimento da cidade no primeiro dia e já o vejo de maneira diferente, tenho um conhecimento mais profundo deste povo, desta gente alegre e bem-disposta da qual vou sair com uma opinião muito mais positiva do que aquela que tinha.
Gostei bastante!!!! :)
ResponderEliminarAconselho vivamente esta viagem. Aqui está apenas o resumo do resumo para não me esquecer dos detalhes ;)
ResponderEliminarExcelente viagem, excelente escrita...;)
ResponderEliminarGostei mto...
Parabéns!
Só lá estive 4 dias mas também gostei da Irlanda e mto do povo... Ou não fosse a minha cunhada 100% Irlandesa... :)
Bjs*
Aconselho a volta à ilha.
ResponderEliminarDublin (apesar de ser uma excelente cidade) é redutora em relação ao que a Irlanda tem para oferecer.
Tenho a certeza que a tua cunhada 100% Irlandesa concorda comigo.
Beijinho