Não fazer nada, às vezes é fazer tanto. Mas existirá mesmo a possibilidade de não fazer nada?
- Hoje não trabalhei nada ( Mas houve coisas que ficaram feitas)
- Não comi nada ( Mas o prato não ficou intocável)
- Eu não dormi nada ( Mas quando o despertador tocou estava a dormir ferrada)
Nem mesmo a verdade
Há tanta suavidade em nada se dizer
E tudo se entender —
Tudo metade
De sentir e de ver...
Não digas nada
Deixa esquecer
Talvez que amanhã
Em outra paisagem
Digas que foi vã
Toda essa viagem
Até onde quis
Ser quem me agrada...
Mas ali fui feliz
Não digas nada.
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"